Segredinho só nosso
A fadinha Amanda finalmente contou tudo sobre o seu desejo de ter um par de botas cor-de-rosa.
Nos dias seguintes Amanda voltou. Acho que gostou de conversar comigo.
A cada novo encontro eu conhecia um pouco mais sobre seu desejo. Percebi que ela desejava a bota cor-de-rosa mais do que qualquer coisa. E desejo, quando é grande demais, parece não caber na gente. Ainda mais em corpo de fada, que é pequenininho.
Sentada na poltrona à minha frente, a fadinha dizia:
– Eu sei que ainda sou aprendiz, dona Fada Conselheira. Só posso fazer mágica no Mundo das Fadas. Já cansei de procurar uma bota cor-de-rosa como modelo, mas aqui não tem nenhuma. Posso trazer de lá?
– Nem pense nisso. Não podemos trazer para cá objetos do mundo de lá. É proibido, você sabe.
– É proibido… – repetiu a fadinha.
– Além do mais, temos um número limitado de feitiços para serem usados durante a vida. O número é secreto, mas se for usado sabiamente durará a vida inteira.
Não conheço nenhuma fada sem feitiço. Você conhece?
– Não, dona Fada, não conheço, e meus pais vivem dizendo: “Fazer enfeites protetores de pés é desperdício de feitiço”. Imitou a voz da mãe. Acho que por isso me trouxeram aqui, talvez um conselho seu possa me ajudar a tirar isso da cabeça… Mas eu não consigo.
– Por este motivo não quer mais ir para a escola?
– É, eu acho. Não paro de pensar nos enfeites de pé e não consigo prestar atenção em nada.
– Desde quando você está assim?
Ela permaneceu quieta por alguns segundos e depois falou, sem sorrir:
– Só vou contar isso pra você, dona Fada. Minha mãe disse que posso falar qualquer coisa aqui. Posso mesmo?
– Toda Fada Conselheira faz um juramento solene: nunca revelar o que é dito em nossos aconselhamentos. Palavra de fada tem muito valor. Pode me contar o que sentir vontade de contar.
E Amanda começou então a falar.
Você também tem alguém para contar os seus segredos?